"Leite de amêndoa e hambúrgueres vegetarianos podem prejudicar o meio ambiente", diz a mídia sobre o novo estudo da Universidade de Oxford; os alimentos à base de vegetais são piores para o meio ambiente?
Coral Red (vermelho coral): Principalmente falso
Laranja: Enganoso
Amarelo: Principalmente verdadeiro
Verde: Verdadeiro
Em 2 de dezembro, o Times publicou um artigo intitulado "The vegan staples that are worse for the planet than meat or dairy" (Os alimentos veganos básicos que são piores para o planeta do que carne ou laticínios), posteriormente alterado para "The vegan staples that are bad for the planet" (Os alimentos veganos básicos que são ruins para o planeta). O artigo fez várias afirmações ousadas sobre o impacto ambiental de alternativas à base de plantas, incluindo leite de amêndoa e bacon vegetariano, com base em descobertas de um novo estudo científico publicado na revista PNAS. Essa verificação de fatos explora a precisão com que essas afirmações refletem as descobertas do estudo e se o enquadramento da mídia distorce a narrativa ambiental mais ampla.
O artigo deturpa as conclusões gerais do estudo, destacando produtos como o leite de amêndoa, que, segundo o estudo, consomem mais recursos hídricos. O estudo enfatiza que a substituição de produtos de origem animal por uma variedade de opções à base de plantas pode oferecer benefícios à saúde, ao meio ambiente, à nutrição e aos custos.
A manchete do artigo ilustra a influência descomunal do enquadramento da mídia nas percepções do público sobre as escolhas alimentares. Afirmações sensacionalistas, como as que sugerem que os alimentos básicos à base de vegetais são piores para o planeta do que a carne, podem induzir os consumidores a ignorar os benefícios ambientais mais amplos da redução dos alimentos de origem animal.
Ao ler as declarações da mídia, preste muita atenção ao contexto e aos dados de apoio. Uma única métrica, como o uso da água, pode ser enfatizada para pintar um quadro exagerado. Procure estudos ou verificações de fatos que considerem toda a gama de fatores, inclusive as emissões de gases de efeito estufa, o uso da terra e o valor nutricional, para uma compreensão equilibrada.
Alegação 1: O leite de amêndoa é pior para o meio ambiente do que o leite de vaca em uma base por caloria
Análise: O artigo do Times apresenta apenas os resultados por caloria, enquanto o estudo inclui resultados para o impacto ambiental tanto por porção quanto por caloria. É verdade que , por caloria, o leite de amêndoa teve um impacto ambiental maior do que o leite de vaca. No entanto, por porção de leite, o leite de amêndoa teve apenas 33% do impacto do leite de vaca, com menos emissões de gases de efeito estufa, uso da terra e uso da água, o que o torna melhor para o meio ambiente em geral quando se considera a porção que alguém pode consumir.
Se você substituísse o leite de vaca pelo leite de amêndoas no seu café ou no seu café da manhã, é improvável que você bebesse 4 vezes a quantidade de leite para igualar as calorias do leite de vaca. Em vez disso, você provavelmente o substituiria pelo mesmo tamanho de porção e, nesse caso, o leite de amêndoas tem um impacto ambiental menor. O artigo do Times deixa de lado essa parte da pesquisa, apresentando uma visão enganosa ao sugerir que o leite de amêndoa é categoricamente pior.
Alegação 2: Algumas carnes falsas, como o bacon vegetariano, obtiveram uma pontuação geral pior do que o bacon de porco que ele foi projetado para substituir.
Análise: No estudo, os pesquisadores combinaram as pontuações separadas atribuídas a cada produto em termos de nutrição, mortalidade, emissões de gases de efeito estufa, uso da terra, uso da água e custos da dieta para fornecer a cada alimento uma pontuação geral.
É verdade que, por caloria, a pontuação geral do bacon de porco (0,57) foi ligeiramente melhor do que a pontuação geral do bacon vegetariano (0,46). No entanto, se observarmos atentamente as pontuações, essa diferença foi totalmente motivada pelo custo do bacon suíno em relação ao bacon vegetariano. Em todas as outras métricas(emissões de gases de efeito estufa, uso da terra, nutrição, mortalidade e uso da água), o bacon vegetariano teve um desempenho melhor do que o bacon de porco.
Além disso, todas as alternativas de carne e leite, incluindo o bacon vegetariano, foram associadas a reduções no risco de doenças crônicas e mortalidade geral quando comparadas às carnes de origem animal. Por porção e por caloria equivalente, o bacon vegetariano teve um impacto ambiental menor do que o bacon de porco, com menos uso da terra, menos emissões de gases de efeito estufa e menos uso de água. No entanto, o bacon vegetariano teve um custo mais alto por porção e por caloria.
Alegação 3: Os veganos que desejam salvar o planeta devem se limitar a comer feijão e evitar alternativas da moda, como leite de amêndoa e carne cultivada em laboratório.
Análise: Com base nos resultados do estudo, qualquer pessoa que queira maximizar seu impacto ambiental por meio de sua dieta deve consumir alimentos vegetais não processados, como o feijão, que são ótimos em termos de saúde, meio ambiente e métricas de custo. Trocar uma porção de leite de vaca por leite de amêndoas beneficiaria o meio ambiente em todas as métricas, enquanto a carne cultivada em laboratório não é vendida atualmente no Reino Unido para consumo humano e, portanto, não pode ser considerada uma alternativa da moda.
O estudo não desencoraja o consumo de alternativas à carne e ao leite processados, como o leite de amêndoas, mas destaca o maior uso de água das amêndoas em uma base por caloria. Em geral, eles observam que uma série de alternativas de carne e leite processados e não processados oferecem benefícios substanciais para o meio ambiente, a saúde e a nutrição em comparação com os produtos de origem animal. Os pesquisadores também observaram o risco de deficiências nutricionais de nutrientes específicos ao consumir uma dieta mais baseada em vegetais, como a vitamina B12. As pessoas que seguem uma dieta baseada em vegetais devem estar cientes da necessidade de suplementar com vitamina B12.
Alegação 4: Descobriu-se que produtos populares criados para veganos são relativamente ruins para o clima, incluindo leite de aveia, leite de amêndoa e hambúrgueres vegetarianos.
Análise: O estudo afirma explicitamente que os produtos processados à base de vegetais, incluindo aveia, leite de amêndoas e hambúrgueres vegetarianos, oferecem benefícios ambientais substanciais em comparação com os alimentos de origem animal, embora sejam menos ideais do que as alternativas não processadas. O artigo da mídia deturpa essa nuance.
Alegação 5: O tempeh é um surpreendente segundo colocado, pois mantém as propriedades nutricionais da soja sem muito processamento.
Análise: Essa afirmação reflete com precisão os resultados do estudo. O tempeh é destacado como um produto de bom desempenho devido ao seu alto valor nutricional, menor impacto ambiental e custo moderado.
Implicações mais amplas
A manchete aparentemente revisada, "Os alimentos básicos veganos que são ruins para o planeta", substituiu as imprecisões da original, "Os alimentos básicos veganos piores que carne e laticínios", para se alinhar melhor com as descobertas do estudo. Embora esse ajuste melhore a precisão dos fatos, ele também reflete um problema mais amplo nas reportagens sensacionalistas da mídia. As manchetes buscam chamar a atenção do público com afirmações chocantes, o que pode distorcer as descobertas científicas e reforçar conceitos errôneos.
Resumo
O artigo destaca o leite de amêndoas, que foi o único leite que ficou pior do que o leite de vaca em uma métrica (uso de água), em uma base por caloria; também destaca o bacon vegetariano, que ficou pior do que o bacon de porco na métrica de custo, mas que se descobriu ter um perfil nutricional e ambiental melhor do que o seu equivalente de carne. Como resultado, o leitor fica com uma perspectiva distorcida, que prejudica o panorama geral: sim, é melhor priorizar fontes não processadas de alimentos vegetais. Mas a variedade também é importante, e o estudo mostra que, seja processada ou não, a substituição da carne e dos laticínios por alternativas vegetais pode ter vantagens substanciais. Embora o artigo faça essa distinção, o foco nas poucas alternativas vegetais que não obtiveram uma pontuação tão alta quanto os produtos não processados vem logo no início, após uma manchete enganosa. Infelizmente, em um mundo acelerado em que as pessoas são bombardeadas com informações, a maioria delas não lê além das manchetes, o que destaca a importância da precisão dos fatos ao relatar estudos científicos.
O artigo conclui com a necessidade de mudanças na dieta, sem as quais pode ser cada vez mais difícil enfrentar a crise climática. No entanto, a manchete sensacionalista reforça os conceitos errôneos de que os alimentos à base de vegetais podem não ser tão ecológicos quanto pensamos, o que pode causar confusão e potencialmente afetar as decisões.
Nossa classificação
Potencial enganoso ⭐⭐⭐⭐
Equilíbrio ⭐⭐
Factualidade ⭐⭐⭐⭐
Clareza ⭐⭐⭐⭐
A classificação enganosa é motivada pela falta de equilíbrio fornecida pelo artigo. Embora as descobertas do estudo sejam descritas com precisão no final do artigo, sua introdução se concentra muito nos poucos produtos que não tiveram uma classificação tão alta quanto os produtos não processados, sem explicar completamente a quais métricas as classificações mais baixas estavam associadas. Esse desequilíbrio também pode causar alguma confusão entre os leitores, pois o tom da manchete e das declarações introdutórias não corresponde exatamente às conclusões mais equilibradas do artigo.
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Entramos em contato com o The Times e estamos aguardando uma resposta.
Fontes
Marco Springmann (2024). "Uma análise multicritério de alternativas à carne e ao leite a partir de perspectivas nutricionais, de saúde, ambientais e de custo ." https://doi.org/10.1073/pnas.2319010121
Wayback Machine. https://web.archive.org/
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