
Não ouça o conselho desse influenciador, as frutas não estão engordando.
Coral Red (vermelho coral): Principalmente falso
Laranja: Enganoso
Amarelo: Principalmente verdadeiro
Verde: Verdadeiro
Em um vídeo recente, Candi Frazier, também conhecida como "Primal Bod", afirma que o consumo de pequenas quantidades de frutas (por exemplo, meia maçã por dia) leva ao acúmulo de gordura e que o consumo de carne desencadeia a gliconeogênese, convertendo a proteína em glicose, com "qualquer coisa extra" armazenada como gordura.
Meia maçã faz você engordar? Usamos as evidências mais recentes para descobrir.
As frutas inteiras, como as maçãs, estão associadas a uma saúde melhor, não à obesidade. Na verdade, as pesquisas associam o consumo de frutas à redução da gordura visceral e ao melhor controle da glicose.
A desinformação sobre as frutas é constante e pode levar as pessoas a temerem desnecessariamente esse grupo de alimentos saudáveis, possivelmente levando-as a dietas restritivas ou desequilibradas. Entender como o corpo realmente processa a glicose, a proteína e a gordura pode nos ajudar a fazer escolhas informadas sem cair em mitos sobre dietas.

Procure evidências quando alguém fizer uma afirmação on-line; afirmações confiáveis devem ser respaldadas por estudos ou dados científicos.
Alegação 1: "Comer meia maçã por dia causa ganho de gordura visceral devido ao excesso de glicose."
Essa afirmação não corresponde ao que a ciência nos diz sobre frutas e armazenamento de gordura. De fato, muitos estudos mostram exatamente o oposto, sugerindo que as frutas podem, na verdade, ajudar a reduzir a gordura visceral.
A gordura visceral é a gordura armazenada na barriga, ao redor de órgãos internos como fígado, estômago e intestinos. É saudável ter alguma gordura visceral, mas o excesso dela está associado a um risco maior de doenças como doenças cardíacas e diabetes tipo 2.
Um estudo realizado na Holanda com mais de 6.600 participantes descobriu que a ingestão de frutas e vegetais estava associada a um menor teor de gordura visceral e hepática. Os autores mostraram que o consumo de apenas 100 gramas a mais de frutas e vegetais por dia - cerca de uma maçã pequena - está associado a 1,6 cm² a menos de gordura visceral em mulheres.
Outro artigo, publicado em 2020 na revista Nutrients, analisou as evidências de alta qualidade disponíveis para concluir que a ingestão de frutas e vegetais é um dos principais contribuintes para a perda de peso em mulheres. Isso contradiz a afirmação de que as frutas contribuem para o ganho de gordura visceral.
Mais evidências vêm de uma revisão sistemática de 2019 que constatou que o consumo de frutas frescas provavelmente promove a manutenção do peso ou a perda de peso modesta, e é improvável que contribua para a ingestão de muitas calorias e para o ganho de gordura ou peso em excesso.
A maioria das frutas, como as maçãs, contém uma mistura de açúcares naturais, incluindo glicose, frutose e sacarose. A sacarose em si é uma combinação de glicose e frutose. O corpo usa principalmente esses açúcares para obter energia antes de armazenar qualquer excesso de gordura e, desde que a ingestão total de calorias permaneça dentro das necessidades energéticas do corpo, é improvável que o excesso de glicose das frutas seja armazenado como gordura. Um estudo clínico para perda de peso que comparou uma dieta rica em sacarose com uma dieta pobre em sacarose - ambas com calorias equivalentes - constatou que, após seis semanas, os participantes de ambos os grupos tiveram reduções no peso corporal, na gordura corporal, na pressão arterial e nos lipídios sanguíneos.
Não há absolutamente nenhuma evidência de que comer meia maçã por dia leve ao ganho de gordura visceral. Em vez disso, é provável que as frutas inteiras, inclusive as maçãs, ajudem a manter um peso saudável. Saiba mais no vídeo abaixo do Dr. Carvalho.
Alegação 2: O corpo não foi projetado para lidar com grandes quantidades de glicose provenientes de frutas.
Essa afirmação é enganosa porque as frutas inteiras geralmente não causam grandes picos de açúcar no sangue, especialmente aqueles que o corpo não consegue suportar.
Embora as frutas sejam relativamente mais ricas em açúcar em comparação com outros alimentos integrais, elas também são carregadas de fibras, água, antioxidantes e muitos outros compostos. A fibra da fruta retarda a digestão e evita picos rápidos de açúcar no sangue.
Seu corpo é naturalmente equipado para lidar com os açúcares das frutas inteiras, especialmente quando consumidas em quantidades razoáveis. Na verdade, seu sistema digestivo foi projetado para quebrar alimentos integrais como as frutas, absorvendo suas vitaminas, minerais, fibras e compostos vegetais benéficos para abastecer seu corpo e apoiar as funções essenciais.
Na verdade, lidamos tão bem com as frutas, inclusive com o impacto da glicose, que o consumo regular de frutas está consistentemente associado a um risco reduzido de doenças cardiovasculares, derrame, diabetes tipo 2, vários tipos de câncer e mortalidade por todas as causas.
Alegação 3: Comer carne causa gliconeogênese, transformando proteína em glicose, e qualquer glicose extra se transforma em gordura.
A afirmação de que comer carne "causa" a gliconeogênese para produzir glicose a partir da proteína é parcialmente verdadeira, mas enganosa, pois simplifica demais um processo metabólico muito complexo. Dizer que "qualquer glicose extra se transforma em gordura" também é uma simplificação exagerada e imprecisa.
O que é gliconeogênese?
A gliconeogênese é o processo pelo qual o corpo produz glicose a partir de fontes que não são carboidratos, como aminoácidos, quando necessário. Normalmente, isso ocorre durante o jejum, a ingestão de pouco carboidrato ou exercícios intensos para manter os níveis de açúcar no sangue estáveis.
Embora o corpo possa usar os aminoácidos da carne para "ativar" a gliconeogênese, ela não é diretamente acionada pela ingestão de proteínas e depende de processos rigidamente regulados. Um estudo de 2013 descobriu que a proteína da dieta contribui pouco para a produção de glicose no corpo por meio da gliconeogênese.
Frazier já havia feito uma afirmação semelhante, sugerindo que uma alta porcentagem da carne que comemos é convertida em glicose e que, portanto, não precisamos de carboidratos. Com base em evidências científicas, essas alegações também foram consideradas falsas, o que explicamos no vídeo abaixo.
Por que essas alegações são enganosas
O ganho de gordura visceral e o ganho de peso são influenciados por uma mistura complexa de fatores, incluindo dieta, estilo de vida, metabolismo e genética - não apenas pelo fato de comer uma maçã. Embora o consumo de mais calorias do que o corpo necessita seja o fator fundamental para o ganho de gordura, a realidade é muito mais sutil. A qualidade dos alimentos, os níveis de atividade e os padrões dietéticos gerais desempenham um papel na forma como o corpo armazena ou queima energia.
Essa alegação também destaca uma tática comum usada por alguns influenciadores: distorcer seletivamente a ciência para adequá-la a uma narrativa específica. Nesse caso, a mensagem subjacente se alinha com uma ideologia restritiva e rica em carne, em que qualquer coisa fora dessa estrutura - como frutas - é difamada. Ao simplificar demais a complexa ciência da nutrição e enquadrar determinados alimentos como não naturais ou prejudiciais, esses argumentos criam uma história convincente, mas enganosa.
O resultado final
As frutas são uma parte importante de uma dieta saudável, e não há evidências de que elas contribuam para o ganho de gordura, como Frazier afirma em seu vídeo.
Isenção de responsabilidade
Se você tiver uma condição de saúde que afete a regulação do açúcar no sangue, como diabetes tipo 2, sempre consulte seu médico antes de fazer mudanças na dieta ou confiar em alegações on-line. Este artigo é apenas para fins informativos e não deve ser considerado uma orientação médica.
📚 Fontes
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Fromentin et al. (2013). Dietary Proteins Contribute Little to Glucose Production, Even Under Optimal Gluconeogenic Conditions in Healthy Humans. doi: 10.2337/db12-1208.
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